segunda-feira, outubro 09, 2006

Death... A Certeza das Incertezas...

Seus olhos deitavam, sobre aquele que se afastava a passos calmos e que caminhava às sombras das árvores. Tinha grande carinho pelo mais velho dentre eles, mesmo quando ele não dizia muitas palavras. Ver o Irmão mostrando as trilhas que ele ofertava, para as crianças que o escutavam, mais do que escutariam quando estas atingissem a fase adulta, trouxe-lhe uma paz que seria interrompida em poucas horas. As palavras de Destino sempre foram certas, por mais que os mortais tentassem negar, e quantas vezes pode ouvir as lamentações e os praguejares que culpavam o irmão mais velho quando tinham sidos eles próprios os responsáveis por suas escolhas?
Com calma seus olhos se erguiam vendo aquele dia que findava. Kayleigh podia escutar o silêncio que aumentava enquanto o manto da noite deitava-se sob o céu deixando o azul tornar-se negro e pequenos pontilhares surgirem em forma de esperança.
Esta seria a última noite tranqüila que o terceiro poderia trazer para as almas dos desavisados. A última noite tranqüila que haveria por um longo tempo. Sentia saudades do irmão, mas ainda não era o momento certo, para que ambos caminhassem mais uma vez e ela pudesse acalmar-lhe o coração. Talvez ela fosse a única que o compreendesse.
A noite transcorria de forma silenciosa e fria. Trazia a calmaria antes da tempestade. Faltava tão pouco, tão pouco para que as lágrimas fossem derramadas em uma dor que nem mesmos os risos que tinham sido dados, seriam capazes de aplacar tamanha dor. Nem mesmo seus dedos finos que percorriam as paredes daqueles imensos prédios traziam um sorriso em seus lábios.
- Está chegando o momento.
A noite correra como uma criança. Correu como aqueles que correm para seus braços. Kayleigh fechava seus olhos. Sentia o sol tocar-lhe a pele clara tentando aquecer o coração que se tornava frio. Havia chegado o momento, podia sentir a presença de mais um irmão.
- Estas apenas cumprindo seu Destino...
O som surdo do impacto de algo metálico contra concreto e vidros, por um momento trouxe o silêncio. Um silêncio que traria a explosão que traria as lágrimas, que traria a dor, que traria ao mundo a incompreensão e a raiva, parecia parar naquele ínfimo momento e então veio a explosão de gritos. Gritos incrédulos, gritos de dor, gritos de Desespero. Ali dois irmãos mais se uniriam, mas tudo ao seu devido tempo.
Mais tarde o vento brincava com os longos fios negros. Fios que brincavam diante dos tons azuis. Sombrios estavam como o mais profundo abismo. Ao ver seus braços a aquecer o pequeno corpo perdido. Quão triste era o retorno da inocente alma. Quão triste era o lamuriar do vento frio. Vento frio que tentava abrandar as chamas. Chamas a crepitar no Inverno aquecido. Um Inverno que chegara a alma dos humanos, não como a estação que deveria chegar no momento certo, mas como as tristezas que aquela estação parecia impor nas almas daqueles que lutavam.
- É apenas isto...
Suspirava ao deixar suas palavras escaparem. Suspirava ao enxergar o corpo adormecido em seus braços em meio a tudo aquilo.
- Se você vai ser humano, tem um monte de coisas no pacote...
Deixava então os dedos alcançarem o inocente rosto. Traçando os traços tão bem vividos.
- Olhos, um coração, dias e vida.
Sorria deixando uma lágrima descer a face pálida que possuía. Face que ganhava cores com o crepitar das chamas que estavam em torno.
- Mas são os momentos que iluminam tudo. O tempo que você não nota que está passando...
Mais uma vez suspirava, sentindo a maciez dos fios dos cabelos do pequeno corpo. Deixando a cabeça mover-se e observar sobre um dos ombros a fumaça negra que subia. Via o lamuriar das almas sobre os corpos. Lamuriar daqueles que não tinha compreendido.
- É isso que faz o resto valer, pois quando a última coisa viva morrer...
Voltava os olhos sobre o corpo que se mantinha aquecido em seus braços.
- Meu trabalho estará terminado...
Sorria enquanto afagava o rosto de quem ela confortava.
- Então, eu colocarei as cadeiras sobre as mesas... Apagarei as luzes... E fecharei as portas do universo, enquanto o deixo para trás.
Com calma ela repousa o pequeno corpo ao chão. Puxando as mechas vermelhas para o lado, repousando um beijo na pequena fronte de quem ela tanto confortou.
- Mas a morte não é o fim de tudo...
Sorria ao erguer o corpo.
- Não mais é o fim nestes tempos vividos...
Seus passos se afastavam daquele pequeno corpo. As chamas pareciam se apagar aos poucos.
- Pois a morte é apenas o início de uma nova vida...
A escura noite ganhava novos tons. Não mais alaranjados... Não mais cinzentos. Ganhavam tons azuis e vermelhos. Ganhavam vozes que continham vida. Tinha contado mais uma vez aquela história para alguém que já tinha a escutado. Afastava-se daquele pequeno corpo pois muito ainda precisava ser feito e aqueles que precisavam partir precisavam compreender que o momento havia enfim chegado. Em algum lugar um cadarço era amarrado com calma, enquanto a mente se perdia em pensamentos. Em algum lugar um grito era ouvido.
- AQUI!!! ESTA CRIANÇA AINDA ESTÁ VIVA!!!

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