quinta-feira, outubro 19, 2006

Desire... O Doce Aroma do Limiar...

Seus olhos se fechavam. Fechavam-se naquele ínfimo momento no qual o silêncio parecia tão doce e eterno. Naquele ínfimo momento no qual mil vozes eram silenciadas. Podia sentir a brisa que lhe tocava a pele pálida, que movia seus cabelos negros, assim como as suas roupas. Podia sentir o doce perfume de pêssego que exalava e que tocaria as almas das pessoas. Como era gostoso sentir aqueles anseios que alcançariam o limiar. Que seriam capazes de coisas sórdidas no simples encontro que teriam com sua outra alma. Mas antes de encontrá-la, curtia apenas o momento. O momento em que as linhas eram traçadas por seu irmão mais velho. O momento em que seu terceiro irmão acalentava os mortais em seus Sonhos, mas trazendo o tormento para o Pródigo. Sorria um fino sorrir quando o Pródigo pintava sua mais bela obra durante seus sonhos. Mesmo quando este desejava criar ele destruía, e como destruía com perfeição. Deslizava os dedos sob o queixo levando ao colo, enquanto rebuscava o ar ao sentir a mais velha no local.
- Sim... Chegou o momento...
Sorria ao abrir os olhos no exato momento em que vinha aquela explosão de vozes. Vozes tocadas por sua irmã Cecile que também seriam tocadas por seus dedos. Aonde havia Desespero também haveria Desejo, pois sempre andavam lado a lado. Casey, colocava suas mãos sobre os ombros de uma mulher, sussurrando-lhe nos ouvidos palavras cálidas que eram um segredo. Suas sombras se projetavam confundindo os sentidos daquela mulher que via tão próxima a ela uma criança naqueles escombros.
- Por Deus!!! Por Deus!!! Ela é tão jovem...
Chorava a mulher abraçada por Casey. Ah! Como desejava tocar a pele daquela pequena de cabelos avermelhados que conheceu Destino no parque, enquanto ele contava histórias sobre o quão implacável ele poderia ser. Como desejava contornar os traços da pequena criança de cabelos avermelhados que foi embalada nos braços de Sonho poucas horas antes daquele momento trágico. Como desejava sorver dos lábios da pequena o pequeno e amargo doce que Desespero tentou deitar sobre sua alma atormentando-a enquanto a mesma se encontrava sob os domínios de Sonho. Como desejava dividir os mesmos sonhos que ela dividiu com Destruição enquanto ele dormia, mas que ela despertaria um pouco antes de tudo acontecer e estaria aonde deveria estar. Desejava-a. Desejava-a como uma criança deseja um brinquedo na noite de Natal. Desejava-a como uma criança deseja os doces do Halloween.
- E faltava tão pouco...
Sorria, enquanto sentia a mulher que abraçava entrando no limiar.
- Por Deus!!! Por Deus!!! Ela é tão jovem...
A mulher desejava viver. Desejava escapar daquele lugar escuro e sufocante. Daquele local que iria desabar. Os dedos da mulher estavam tão próximos daquela criança. Daquela criança que Casey queria tanto tocar. Mas a mulher que Casey abraçava começava chorar. Chorava com as lembranças do marido que não se conformaria. Chorava pelas mães que perderiam seus filhos. Filhos que ela cuidava durante aquele passeio escolar. Chorava pelos filhos que ela ansiava ter e este dia jamais haveria de chegar. Casey podia sentir aquele aroma almiscarado que lhe alcançava o olfato. Podia ver aqueles olhos cinza como os dias nublados e úmidos que seriam capazes de tirar as cores do mundo em que seus dedos tocavam. Podia escutar aquele sussurro quando sentia aquela mão fira e úmida tocar-lhe a face, rasgando-lhe a pele com aquele pequeno anel que continha um gancho. Então sentia quando o limiar era ultrapassado por aquela mulher que antes abraçava e escapava de seu abraço em um grito desesperado. Via quando a mulher alcançava a criança de cabelos avermelhados.
- Eu não vou deixar você morrer!! Não vou deixar você morrer!!!
Chorava a mulher que via o mundo desabar sobre ambas. Abraçando o corpo da criança e usando o seu corpo para proteger aquele pequeno ser. Casey via o mundo ficando cinza e fechava os punhos em uma raiva que explodiria.
- CECILE...
Esbraveja de modo ríspido, buscando mais uma vez aquele olhar. Buscando mais uma vez aquele cheiro almiscarado e pungente, enquanto sentia o fino fio de sangue que escorria a sua face pálida. Mas seu coração quase parou no momento em que viu aquela que parecia nunca ceder aos seus toques. Aquela que olhava nos fundo de sua alma enquanto passeava pelos escombros e alcançava aquilo que tanto desejou. Pode ver sua irmã mais velha acalentando aquela criança, pois ainda não era chegada a hora. Podia ver sua irmã derramando uma lágrima enquanto contava uma história para aquela que se encontrava adormecida e escutava pela segunda vez a história que contava a todos que ainda nasceriam. Gostaria de sorver aquela lágrima com seus lábios. Sorver aquele momento único em que os olhos azuis, e tão sombrios como o abismo, observavam as estrelas contidas no sombrio céu que se deitava sobre todos eles, tanto mortais, quanto Perpétuos. Sim... Também daria seu presente à pequena criança de cabelos avermelhados que foi tocada rapidamente por Desespero, durante seus sonhos, mas que ainda conheceria a verdadeira influência daquela alma que tanto desprezava, mas que não conseguia negar os seus toques. Daria um pequeno presente àquela pequena criança de cabelos avermelhados que estava sendo agraciada por todos eles. Casey observa a cena toda de sua irmã mais velha e deixando que seus olhos repousassem sobre um grupo de bombeiros, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. Um baixo sussurro chegou aos ouvidos daqueles que sofriam a influência de sua irmã Cecile. Casey daria o troco. Daria o troco de bom grado, enquanto via os olhos cinza deitarem-se sob seus olhos amarelados.
- Não se atreva...
Os corações daqueles bombeiros batiam acelerados. Suas mãos trabalhavam rápidas. Seus olhos encontravam aquele pequeno corpo de cabelos avermelhados.Sim! Como Casey se deleitava com aquele desejo desesperado que cresciam nos bombeiros, enquanto Kayleigh se afastava do lugar para recolher as outras almas. Como Casey se deleitava com o olhar de sua outra alma que via os bombeiros tocando o pequeno corpo gritando:
- AQUI!!! ESTA CRIANÇA AINDA ESTÁ VIVA!!!
A esperança de encontrar mais pessoas vivas aumentava o Desejo naqueles bombeiros. A esperança que aquela pequena criança de cabelos avermelhados trouxe por ainda ser encontrava viva, era capaz de mover montanhas. Mesmo que sua irmã Cecile ainda tentasse ter um pouco de influência, Casey ria ao sentir o seu toque se espalhar sobre os corações a as almas dos mortais. Ria ao sentir o seu desejo crescer no coração daqueles que estavam ali. Ria ao ver bombeiros, policiais e até mesmo outros sobreviventes, ainda capazes, se unirem para procurar mais almas vivas.
Ah! Como Desejava desta vez ser a pessoa que acalentaria Cecile em seus braços. Mas Casey sabia que aquele dia ainda não tinha terminado.

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