quarta-feira, novembro 22, 2006

Morningstar

Um pequeno som metálico traz a chama alaranjada que ilumina a face daquele que se encontra em um ambiente mais escuro. Os olhos claros aos poucos se erguem para observar de soslaio aquele local que está mais lotado que o próprio Inferno. Seria uma bela noite para descobrir algumas almas atormentadas ou ao menos corrompê-las, mas estaria ele naquele ambiente para corromper as almas?
O sorriso é contido, enquanto a fumaça cancerígena atinge seus pulmões. Com a outra mão repuxa os fios dourados de seus cabelos, acariciando-os como alguém que parecia extremamente cansado de tudo aquilo. Por que não dizer que ele gosta da franja um pouco mais longa, para que a mesma teime cair à frente de seus olhos? Poderia estar sendo sarcástico com as pessoas com quem ele conversava ou não, pois ninguém jamais saberia se ele está falando a verdade ou não, mesmo ele mantendo os olhos tão visíveis para aqueles que sempre o buscavam.
- Olhar...
Aos poucos a fumaça esbranquiçada escapa por seus lábios entreabertos, subindo diante do olhar que buscava mais do que uma simples conversa, mais do que o simples tocar das claves de um piano.
- Janela do mundo, Janela da Alma.
O Cigarro cai espalhando algumas de suas brasas naquele chão em que ele se encontrava. Logo o cigarro é pisado por sapatos negros e polido, os quais deixam ecos para trás. Ecos que se juntam às milhares de almas que uivavam em seus prantos condenadas ao eterno sofrimento.
- Venha a nós o vosso Reino...
Murmura de forma sarcástica aquela frase, deixando que o ambiente finalmente o envolvesse em sua perversão.
Os ecos de seus passos pareciam retumbar nas almas dos desavisados e os olhos voltados àquele homem de porte belo e esbelto, com o semblante sério mas ao mesmo tempo charmoso e enigmático, não conseguiam desvencilharem-se enquanto ele caminhava em direção ao piano negro que se encontrava ao centro do ambiente.
Os olhos dele passeiam no ambiente, enquanto as pessoas pareciam murmurar algo.
Mais uma vez o som metálico e a chama alaranjada. Mais uma vez a fumaça subindo diante dos olhos de um azul tão intenso e enigmático. Morningstar poderia ter tantos nomes quanto lhe fosse possível, mas as pessoas estranhamente não perguntavam o seu nome e nem teriam porque ousarem em tal questão. Um cinzeiro é posto próximo a ele e o sorriso surge fino em seus lábios. Não precisava agradecer. Ela sabia o quanto ele lhe era grato por tão pequeno gesto.
“I've been so many places in my life and time
I've sung a lot of songs, I have made some bad rhymes
I've acted out my life in stages with ten thousand
people watching
But we're alone now and I'm singing this song for you”
O silêncio por um momento reina, quando a voz de Morningstar se propaga pelo ambiente. Ele esquecia o resto do mundo naquele momento. Esquecia os problemas que surgiriam, pois ele sabia que naquela noite ele receberia uma visita especial e tal visita era intrigante.
“I know your image of me is what I hope to be,
I've treated you unkindly
But girl can't you see, there's no one more important
to me
So darling can't you please see through me, 'cause
we're alone now
And I'm singing my song for you, you taught me
precious secrets”
Seus dedos deslizavam pelas claves do piano, enquanto ele cantava aquela canção. Muitas mulheres poderiam suspirar apaixonadas naquele momento, mas Morningstar, sabia que muito em breve aquela canção não iria significar nada para ele e o mover das peças no tabuleiro poderiam ser proveitosos para ele.
“The truth withholding nothing, you came out in front
When I was hiding, but now I'm so much better
So if my words don't come together, listen to the
Melody”
Morningstar podia sentir aquele cheiro a uma distância considerável, então era ela quem surgia para conversar com ele?
O sorriso se alarga nos lábios, quando ele observa o cigarro quase todo queimado. Sem cerimônia alguma, encerrava a canção que estava a cantar, pedindo um Martini à sua ajudante, enquanto pôs-se a caminhar a uma mesa que parecia sempre disponível a ele.
Sentava-se à mesa e logo sua bebida era servida. Seus olhos indicavam àquela criatura que não queria ser interrompido e a mesma em sua devoção meneia a cabeça em afirmação se afastando enquanto outra mulher sentava-se à mesa.
- A que devo a honra de sua visita?
Morningstar acendia com calma outro cigarro, acendendo em seguida o cigarro que aquela mulher puxava. Divertia-se observando aqueles olhos cinza e tempestuosos que seriam capazes de tirar o colorido da vida. Era raro ele receber uma visita dos Irmãos.
- Você sabe!
A voz vinha de modo frio em um sussurrar quase inaudível. Ele sabia e em certo ponto se divertia com tudo aquilo. Aqueles irmãos não costumavam interferir na vida dos mortais, mas uma pequena criança parecia ter sido abençoada por eles. Apenas aquela que estava diante dele, ainda não tinha compreendido que ela também abençoou aquela criança.
- Está fora de minha alçada.
Responde com calma Morningstar, observando Cecile nos olhos. Podia ver a fúria se instaurando aos olhos daquela mulher. Mas ela sabia se conter. Não falava mais do que o necessário e a noite prometia tanto a ele.
- Está com medo, Estrela da Manhã?
A taça era levada aos lábios e o gosto seco daquela bebida era sentido por Morningstar. Era engraçado para ele se ver naquela posição.
- Você sabe que não.
Soltou de forma calma, repousando a taça sobre a mesa.
- Então?
Morningstar ao escutar aquela palavra tão curta, cruza um dos braços enquanto o cigarro se mantém aceso perto da face dele. Olhava dentro dos olhos de Cecile. Sabia o que tal ato poderia vir a causar, mas o jogo continuava e ele não poderia parar o que foi iniciado.
- De tempos em tempos, a crença da humanidade é testada. Tudo em que se acredita pode deixar de existir com um simples abalo nas almas dos mortais. Magia, deuses e até mesmo o tudo, pode vir a ser o nada. Antes da aparição dos perpétuos, existia o nada. O Nada pode ser o único que sobreviva ao findar dos tempos, mas o mesmo não quer voltar à condição que ele vivenciou por tantos milênios.
Morningstar achava estranho ter que contar aquela história. Mas se ao findar da história, Cecile se mantivesse arredia, então ele nada mais poderia fazer. Tudo iria depender de Destino. Ela estava o escutando e era de continuar o espetáculo.
- Então surgem pessoas. Pessoas que acreditam naquilo que poucos acreditam. Pessoas que vêem a beleza que poucos vêem.
- E o que a criança tem haver com tudo isso?
Morningstar abre um largo sorriso. Apagava o cigarro se erguendo da mesa.
- Por que você quer destruir a única pessoa que seria capaz de te dar um abraço sincero e te compreender por aquilo que você é?
Cecile por um momento observa-o com sua alma dilacerada por aquela simples frase. Os pensamentos da mulher ficam confusos, enquanto as lembranças daqueles últimos dias rasgavam seu coração. Cada bronca que ela recebeu de seus irmãos. Cada momento em que seu coração pareceu sofrer da mesma forma que ela fazia os corações sofrerem.
- Em meio ao mundo cinza dois irmãos se encontravam. Um perfume parecia tão agradável tão diferente do outro perfume que deixava o mundo cinza como o cinza das nuvens em dias nublados e que parecem chorar. Tanto pelos que partiram quanto pelos que ficaram.
Cecile ergue os olhos incrédulos ao escutar as palavras de Morningstar. Ele sorria com os cantos dos lábios, enquanto voltava para o piano e mais uma vez punha-se a cantar.
“I've been so many places in my life and time
I've sung a lot of songs, I have made some bad rhymes
I've acted out my life in stages with ten thousand
people watching
But we're alone now and I'm singing this song for you
I know your image of me is what I hope to be,
I've treated you unkindly
But girl can't you see, there's no one more important
to meSo darling can't you please see through me, 'cause
we're alone now
And I'm singing my song for you, you taught me
precious secrets
The truth withholding nothing, you came out in front
When I was hiding, but now I'm so much better
So if my words don't come together, listen to the
Melody”.

2 comentários:

Gina Emanuela disse...

Moça..gosto muito do que escreve e dos comentários interessantes que faz no meu blog, queria poder responder em tempo real..rs c tem msn?
Como é q fomos nos conhecer, hein?

O Profeta disse...

Onde acaba a terra e começa o Mar
Há um lugar onde vive a ilusão
Repousa na madrepérola das conchas
Com a forma de um coração

Onde as giestas se agarram à areia
Onde as pedras têm diadema de algas
Onde o Mar conta histórias longínquas
Onde as vagas soltam distantes mágoas


Boa semana


Mágico beijo