segunda-feira, outubro 16, 2006

Destruction... O Pródigo

Há muito havia abandonado o lar. Há muito evitava seus irmãos pelo simples fato de que estivesse ele presente ou não, a própria humanidade se encarregaria de fazer o serviço dele. Queria se dedicar a outras coisas. Queria poder fazer outras coisas. Sempre tentava ser otimista e alegrar seus irmãos. Mas o fato de abandonar o seu lar trouxe-lhe apenas conflito dentre os seus. Talvez apenas sua irmã mais velha fosse tão extrovertida quanto ele. Amava as artes. Amava construir coisas, mas até mesmo ele sabia que às vezes para construir, precisava destruir certos conceitos que pareciam enraizados na alma dos mortais. Talvez por isso ele não conseguia se ver como aquilo que deveria ser, mesmo sabendo quem ele era e que acabava por fazer aquilo que tinha que fazer. Talvez seja por isso que tenha virado as costas e ido embora.
Ele se encontrava bem. Curtia sua vida dentre os mortais. Levando a vida como ele achava que deveria ser levada, mas algo parecia o incomodar nos últimos dias. Algo que pulsava forte em seu coração e que ele não poderia escapar.
Nunca uma tarde parecera tão tranqüila quanto aquela.
- Há algo... Eu sei que há...
Olhava-se no espelho. Olhava de modo firme deixando seus olhos perder-se em seu reflexo. Perder-se na escuridão que parecia crescer naquele simples objeto reflexivo que era capaz de abrir portais para um mundo. Seu coração acelerava a cada momento em que aquela escuridão parecia crescer enquanto sua mão esfregava o queixo sentindo a barba por fazer. Lembrava-se de tempos passados. Tempos em que possuía uma barba mais espessa. Tempos em que estava junto a eles.
- Não há como escapar...
Ele podia escutar aquela voz sibilante e fria como se a mesma fosse sua. Sentia uma raiva crescente em seu coração, por conta daquela voz que parecia sibilar de modo frio e envolvente. Seus olhos ganhavam uma grande fúria e sua mente voltou a despertar, quando escutou o estilhaçar do espelho em vários pedaços e um líquido quente descer entre os nós dos dedos, enquanto a dor tornava-se presente em meio aos seus gritos.
- NÃO! NÃO DESTA VEZ.!!! VOCÊS NÃO PODEM ME OBRIGAR!!!
Tristan fechava os olhos em tons raros e depois os abria vendo o sangue fluir em sua mão enquanto aqueles cacos permaneciam ali para lembrá-lo de sua condição. Com calma retirou caco por caco, deixando que eles caíssem dentro da pia. Abria a torneira deixando a água lavar sua mão e então saía dali. Saía daquele lugar que agora possuía um espelho quebrado. A janela para um mundo completamente lacrada e que não poderia mais trazer aquela voz sibilante. Há tempos não se sentia daquela forma. Não perdia o controle. Olhava pela janela e se espantava ao ver que a noite já tinha alcançado a cidade e se mantinha silenciosa.
- Que sonhos você pretende trazer para mim?
Deixava a frase escapar, enquanto fechava a janela de seu quarto.
Em sua alma ele sabia que teria que seguir uma trilha. Que deveria cumprir o seu destino. E tal destino seria cumprido, quer ele gostasse ou não.
Deitava-se achando que teria uma noite tranqüila, mas seus sonhos mostraram o caminho que ele deveria seguir. Sonhos que o agitavam na cama, que o faziam cerrar os dedos nos lençóis macios, mesmo parecendo sentir uma mão afagar seus cabelos de um vermelho intenso. Seu coração se acelerava e sua agonia crescia com aqueles gritos que ele escutava, com as lágrimas que ele via. Queria despertar, mas não conseguia.
Seus olhos em tons âmbar olhavam tudo ao redor, era para ser uma tarde tranqüila. Era para aquelas pessoas voltarem para suas casas. Para suas vidas.
- Não.... Não....
Tristan erguia seus olhos vendo aqueles aviões passando. Sentia seu coração acelerando.
- Não... Não...
Seus olhos seguiam a trajetória de cada um daqueles aviões. Sabia muito bem que trajeto cada um seguiria. Seu corpo suava. Seus joelhos tocavam o chão enquanto suas mãos alcançavam-lhe a cabeça e os cabelos de um vermelho intenso.
- Estas apenas cumprindo o seu Destino...
Ele podia escutar a voz da mais velha, podia ver os olhos que poderiam ser negros, mas que eram de um azul tão escuro quanto o abismo do mar. Então veio aquele monte de gritos. Gritos desesperados que já sabiam seu destino. Veio o som surdo do impacto de algo metálico contras o concreto e o vidro. Por um momento tudo se transformou em silêncio. Por um momento ele pode ver um mundo cinza, onde pedras caíam ao redor dele e então o silêncio foi rompido. Rompido por uma segunda explosão. Uma explosão trouxe lágrimas, que trouxe dor, que trouxe ao mundo a incompreensão e a raiva, grito incrédulos, gritos de dor, gritos de Desespero.
- NÃO!!!!
Tristan se erguia na cama, suado. Seu coração beirava ao que os mortais chamavam de ataque cardíaco. Não podia acreditar. Não queria acreditar.
- Que tipo de brincadeira é essa?
Bradava suas palavras até escutar o som da televisão acesa...
Tristan caminhava então para a sala e nela a notícia parecia se repetir como um disco velho e arranhado.
- Nesse dia 11 de Setembro, um poderoso e terrível ataque terrorista, atingindo as duas torres do maior conjunto comercial do mundo, o World Trade Center, em Nova Iorque, veio abaixo horas após ter sido parcialmente destruído por duas aeronaves comerciais Boeing 767, com um total de 157 passageiros a bordo....
...
- Bombeiros, policiais, até mesmo pessoas da comunidade se esforçam para resgatar as vítimas do atentado...
...
- O caos está instaurado. Os americanos bradam por justiça....
...
- É encontrada uma criança em meio aos destroços... A criança de cabelos avermelhados parece bem e está sendo encaminhada para o hospital...
...
Tristan mudava os canais, vendo um por um... Mas as notícias ainda mantinham aquela voz... Aquela voz que parecia sibilar em seu ouvido....
- Você apenas fez o que tinha que ser cumprido, meu doce irmão... Doce Destruição...

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