domingo, outubro 15, 2006

Sandman... O Moldador de Sonhos...

Teve vontade de se aproximar. Teve vontade de dizer para ele não trazer tantas esperanças àquelas crianças. Teve vontade de dizer que ele estava as alimentando com ilusões, mas se assim o fizesse, qual seria o propósito dele entre aqueles que ainda podiam sonhar? O que seria dele se as crianças não tivessem mais sonhos e deixassem de acreditar?
Gawain ficou muito tempo meditando nas palavras que seu irmão mais velho falou para aquelas crianças, sobre quão cruel era sua vida aonde ele era visto como um Deus que não podia ser contestado e que nem mesmo poderia ser aplacada sua fúria.
- Elas não conhecem Destruição, nem mesmo Desespero.
Murmura em tom baixo, mantendo os olhos negros fixos ao chão. Deixava os dedos se entrelaçarem uns com os outros , enquanto crispava os lábios em um suspiro delongado imaginando a última noite tranqüila que aquela cidade possuiria.
Seus olhos nem mesmo se ergueram para ver o irmão que se afastava pelas sombras para que os outros não notassem que o mesmo não possuía uma. Pode sentir a presença de sua irmã mais velha. Aquela que aplacava seus anseios. Que parecia dizer as palavras certas de forma sorridente, mesmo que muitos, às vezes não a compreendessem.
- Ainda não poderemos passear.
Murmurava, enquanto se erguia e voltava a caminhar. A Blusa negra sacudia com o vento frio, bailando em seu corpo esguio. As mãos passavam sobre os cabelos negros naquele ato que o poderia levar ao Desespero enquanto o tempo parecia correr tão rápido contra ele. Tantos sonhos a visitar. Tantos sonhos a moldar. Mas eram os sonhos daquela cidade que estavam o deixando tão pensativo. A noite então se aproximava e o momento era chegado. Seus passos não mais podiam ser ouvidos e com o erguer da mão, Gawain podia ver os pequenos pontos dourados se unindo aos poucos formando um pequeno punhado de areia. Nem mesmo o vento parecia conseguir espalhar aquela areia que ele observava com tanta atenção e calma.
- Que em meus braços eu possa embalar seus sonos, para que em meu reino vocês possam adentrar. Venham... Venham... Minhas doces crianças, pois com este punhado de areia eu não trarei o terror a vocês... Quando vocês sonham, algumas vezes vocês se lembram, mas quando acordam, vocês sempre se esquecem. Assim é o meu mundo, o mundo onde moldo os sonhos que vocês tanto anseiam em chegar...
Gawain sopra de forma calma aqueles primeiros grãos do punhado de areia que esperavam apenas por aquele momento e junto com outros grãos que pareciam sair de uma alforja se espalhavam pelo céu noturno como o brilho das estrelas que eram como pontos de esperança para um novo dia.Gawain observa, quando as casas apagam suas luzes, quando os anseios são deixados para trás e palavras como Bons sonhos pareciam ser tão bem vindas. Seus olhos negros pareciam firmar-se no sono de uma criança e ali ficou ao lado dela quase que a noite inteira.
- Muitos nomes eu possuo. Sandman, Oneiros, Kai'Ckul, Morpheus... Mas não sou o Morpheu que vive no mundo fantasioso ao qual chamam de Matrix e nem tão pouco Sonhar seria como aquele mundo que tantos parecem adorar.
Gwain observava aquele pequeno corpo que dormia de forma inocente, tentava acalmar o sono agitado que a criança possuía, trazendo os sonhos ao invés dos pesadelos.
- Alguns me chamam de Moldador de Sonhos. Enquanto na cultura Grega sou filho de Hipnos. Hans C. Andersen dizia que não há ninguém no mundo que saiba tantas histórias quanto eu sei e que de noite, quando as crianças ainda estão à mesa, muito quietinhas, ou sentadinhas em seus bancos, que eu tiro os sapatos e subo a escada muito devagar, abrindo a porta sem fazer barulho e soprando areia nos olhos delas.
O sono da criança se acalmava e Gwain apenas cobre o corpo dela direito, deixando-a aquecida. Pode ver o que ela sonhava. Pode ver que sonhos ruins aquela criança possuía. Por um momento sabia que aqueles sonhos se tornariam realidade e como desejava interferir. Mas quase podia sentir os olhos de seu irmão sobre ele. Um olhar que reprovaria tal ato.
- Bons sonhos criança...
Gwain ia se afastando, pois chegava a hora em que o sono se tornava leve e que as pessoas começariam a despertar.
- Boa Noite Morpheus...
Vinha àquela voz inocente que fazia Gwain por um momento parar os passos. Seus olhos negros mais uma vez repousavam sobre a criança adormecida que o respondeu enquanto dormia. Era chegado o momento e os dourados raios adentravam pelas frestas da persiana e ali naquele quarto apenas eles tocavam os cabelos avermelhados da criança, pois não mais Gwain se encontrava ali. Mais uma vez ele se encontrava pensativo. Meditando sobre o sonho que viu. Um sonho que viria a ser realidade ainda mesmo naquela tarde.

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